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Por cima dos que andam…

…há os que voam, e muito voámos em 2024. É provavelmente um ano que ficará marcado na vida de todos e, eventualmente, na pele de alguns. Foi um ano em que continuámos a criar histórias atrás de histórias uns com os outros, e em que tivemos a sorte de uma delas ficar eternizada no futebol universitário. Felizmente estamos na crónica de dezembro e não n’Os Lusíadas, por isso o engrandecimento de conquistas passadas acaba aqui. Minha gente, bem-vindos ao mês da época natalícia!

A bola rolou logo no primeiro dia de dezembro, pondo a equipa do Técnico frente a frente com o seu mais recente rival, o ISEG. Depois de terem sido derrotados na final do distrital de Lisboa, os gestores afirmaram que iam fazer o trabalho de casa e vingar-se no Nacional. Nunca voltaram a ter a oportunidade de defrontar o Técnico e conseguiram a proeza de levar para casa algo pior que o segundo lugar de Lisboa: trabalho para férias. Inspirados na fórmula do Instituto, mudaram as captações para tryouts e conseguiram atrair dois nórdicos para a linha da frente. Tal como o United, vão descobrir que Højlund e Haaland não são exatamente a mesma coisa e que Philip só há um. Entretanto, a figura que deixava os engenheiros apreensivos tinha bastante menos massa muscular. No relvado do Estádio de Honra estavam espetados não dois pitons, mas dois saltos altos: Lara Azeitona, coordenadora do desporto universitário, que se inscreveu como delegada para ver o jogo junto ao mister Zé no banco e apoiar a equipa de perto. Sem querer, Lara deixa o mister num dilema ainda mais difícil do que como me rasgar na palestra: escolher o mote para o jogo. Ir de “Contra tudo e contra todos” para “Vamos mostrar o nosso trabalho à AE” foi um downgrade pior do que o de Pedro Ventura depois de arranjar namorada.

Talvez por isso o Técnico entrou amorfo para jogo e, apesar de controlar a posse de bola, apresentava níveis de intensidade muito mais baixos do que os do adversário, que celebrava cada corte como se de um golo se tratasse. Heavy lies the crown. Após perda de bola no meio-campo por parte do jogador mais nervoso com a presença de Lara, o ISEG parte num rápido contra-ataque e inaugura o marcador com um golo de fora de área. Já na segunda parte, o Técnico montou um cerco mais apertado do que a polícia no Martim Moniz. A polícia ainda encontrou uma faca, já o Técnico encontrou zero golos, apesar das boas iniciativas de Pignatelli e das várias ocasiões à boca da baliza. Ao contrário da credibilidade do primeiro-ministro português, o ISEG sobrevive, e a partida termina 1-0 para os gestores.

Estando agora com a corda ao pescoço, os engenheiros teriam de defrontar a versão premium do Splitwise em férias com amigos: os contabilistas do ISCAL. Embora tivessem acabado de subir da segunda divisão, apresentavam umas respeitáveis três vitórias em quatro jogos e encontravam-se acima do Técnico na classificação. O ambiente estava ao rubro e, para os observadores mais desatentos, podia parecer que estávamos nas escadas da Assembleia da República, mas os petardos desta vez não eram dos bombeiros sapadores. A claque bem composta do ISCAL decidiu utilizar pirotecnia no primeiro jogo em que os adeptos foram permitidos, garantindo uma multa avultada da ADESL e um péssimo Return On Investment.

O que faltava à claque do Técnico em quantidade, compensava em qualidade. Mais uma vez, contámos com Lara no banco de suplentes, e também com a diretora do Gabinete do Desporto e da Responsabilidade Social, Carolina Aguiar, no meio da massa adepta Les Blues, dando o salto na hierarquia da AE que precisávamos de dar na classificação. Soa o apito inicial e o Técnico começa mais uma vez por cima. O nosso domínio, desta feita, foi rapidamente compensado, com João Andrade a ganhar a linha e a ver o seu cruzamento finalizado por Tiago Reis na marca de penálti. Durante uma época extremamente consumista, Martins não deixa de estar atento às famílias com mais dificuldades e entra em saldos ainda antes do Natal. Depois de deixar passar um balão vindo da defesa adversária a la final do Nacional, o avançado do ISCAL aplica um chapéu bem medido para o fundo das redes. No entanto, temos de ser brandos com o nosso capitão, que ingeriu tantos Voltarens para conseguir jogar que o álcool deixou de ser a principal ameaça ao seu fígado. Com aquele nível de anestesia, nem deve ter sentido o tiro que deu no pé. O que se passou depois veio diretamente de um jogo de FIFA. Tiago Costa enviou uma bola ao ferro e Tiago Reis enviou outras quatro, numa exibição fantástica que mostra porque é que Lídio guarda uma foto de Reis na carteira. Já perto do apito final, a pedra finalmente furou: um livre lateral foi desviado por Reis ao primeiro poste e Martins conseguiu encostar de um ângulo difícil, redimindo-se do seu erro e confirmando o regresso do Instituto às vitórias, com a sua verdadeira estreia a marcar com a camisola do Técnico.

A chegada do Natal marcou também a chegada da VII Gala Integral de Ouro, onde se juntaram no Salão Nobre a equipa universitária, a equipa sénior, a equipa dos veteranos, os patrocinadores, a AE, Rogério Colaço e diversos acompanhantes para formar toda a família TFC e celebrar o caminho que um clube criado por uma dúzia de entusiastas do futebol já percorreu. E que gala! Faltou alguma comida, mas nunca faltou classe. A noite foi enfeitada por discursos emocionantes, ou pelo menos assim os me descreveram as pessoas que os ouviram. Mas foi enfeitada especialmente pelo bonito trabalho do apresentador, Francisco Paixão, parte integral de uma noite que teve direito a entregas de prémios, performances musicais e o imperativo lembrete de que melhor que o Técnico não há, não há, não há.

Já na esfera universitária, a elevação do evento em relação ao ano passado obrigou-nos a elevar também o número de idas à casa de banho. Por muito que a casa de banho do Central já tenha visto, de certeza que nunca viu aquilo. Com uma densidade populacional maior do que os T2 no Martim Moniz e um número de penáltis por minuto maior do que o Porto na compensação de um jogo empatado, ser alvo de um “Grandes Companheiros” era uma honra altamente cobiçada. 

Por falar em honras cobiçadas, Tomás Martins venceu o prémio de Jogador do Ano Universitário, juntando-o ao prémio de Jogador Revelação do ano passado. Já Zé Ferreira venceu o prémio José Amorim, prémio dado à pessoa que mais personifica os valores do clube e que mais impactou o sucesso do TFC. Tendo finalmente recebido a recompensa que jurava não precisar pelo trabalho notável da época anterior, o mister aproveitou para tornar o seu discurso de aceitação num dos pontos mais altos da noite.

E claro, numa altura em que se marca 1000 dias de guerra na Ucrânia, a guerra bastante mais demorada entre equipa e AE chega finalmente ao fim, com uma solução de Estado Único. Pôr duas mulheres nas posições que lidam com a equipa de futebol foi um importante primeiro passo, e o protocolo celebrado entre o Técnico e o TFC foi o ponto final, protocolo esse que dita que o TFC passa a representar oficialmente o Instituto Superior Técnico. Se assistir embriagado à cerimónia do casamento foi bom, o que dizer do copo d’água realizado no Plateau. À bela maneira antiga, as alianças foram sempre fortificadas com a união entre pretendentes de lados contrários, e os engenheiros rapidamente puseram mãos à obra. Sabemos que somos bons no futebol, mas há que não descartar o potencial de certos jogadores no mergulho livre, depois dos tempos impressionantes passados em apneia. Nem neste desporto deixou de haver separação entre o escalão universitário e o escalão veteRAno, e fica apenas por confirmar se depois do copo d’água se seguiu a noite de núpcias.

Chegamos, assim, ao fim de dezembro, e esta altura do ano traz, inevitavelmente, dúvidas sobre a possibilidade de chegar ao Nacional e de ganhar troféus. Será que falta um avançado com as características físicas de um profissional? Será que faltam líderes no balneário? Ou está só a faltar um bocadinho de sorte? Qualquer que seja a resposta, está na hora de subirmos a mudança. A gala foi bonita, mas é altura de tirar o fato e a gravata e de vestir o fato macaco. Se for para ficarmos arrependidos pelo que fizemos, ou pelo que devíamos ter feito, que seja dentro da discoteca e não dentro das quatro linhas. Janeiro traz já oportunidades para fazermos boas exibições em ambos os recintos: entre uma batalha contra a sobriedade em Madrid e uma batalha contra a Nova na Cidade Universitária, é uma ótima altura para fazer parte da equipa universitária do Instituto Superior Técnico.

Um abraço à família Les Blues,

Guilherme Jardim