[Por Jonas Pereira]
O primeiro jogo do campeonato começou com várias caras novas dentro de campo e as bancadas do Estádio de Honra em alvoroço como nunca tinha visto. Entrámos a perder, empatámos perto do intervalo, e na segunda parte, demos uma demonstração do que é ser Técnico. O jogo acabou com 7–1, contra um candidato, era difícil não ficar entusiasmado com o que se tinha passado ali.
Nas semanas seguintes conseguimos mais duas vitórias confiantes, uma delas contra o rival mais adorado, Direito. Esta fase é fundamental no meu crescimento dentro da equipa não tanto pelos jogos serem memoráveis, mas pelo que me faz crescer como treinador.
Estava a fazer algo pela primeira vez na vida, e já disse isto a muita gente, nunca fiz nada que sentisse que tinha tanto jeito para fazer. Estava plenamente consciente que tinha o balneário comigo, na maioria das vezes não por ser exímio na função, mas por ter dado o salto de fé de assumir a responsabilidade no momento de impasse e por saberem o sacrifício que estava a fazer por não os acompanhar dentro da cancha .
A leveza com que “os meus meninos” me seguiam facilitava e muito o processo de concretização de ideias de um rascunho de papel para um conjunto coordenado de movimentos entre 11 jogadores com objetivos e histórias de vida díspares.
Foi um mês idílico de início de ano letivo, com encontros longos no Arco do Cego num ainda quente Outono lisboeta, onde o sucesso nos enchia o peito, mas não deixava de moralizar para continuar.
Até que ao 4o jogo, aparece uma exibição de desencantamento total. Perdemos por 1–0 num jogo fraco e de ideias parcas, onde fomos desconexos e não tivemos a capacidade mental de liderar os momentos do confronto. Naqueles dias era difícil ter a capacidade de sair de nós próprios e perceber que apesar da motivação se manter talvez a inovação e empreendedorismo na delineação das pequenas tarefas tinha diminuído.
Esta foi a minha primeira derrota como treinador, e uma chamada à terra de que eu não era invencível — quem me conhece sabe que volta e meia preciso destas chamadas.
A análise que eu tinha pela frente podia ser apenas um desvio do padrão que na minha cabeça estava traçado, ou podia ser algo sistémico que se não fosse resolvido ia levar a atritos interpessoais até que os impulsos de inovação do início fossem uma vaga sombra de um sonho que podia ter sido.
Talvez o mais difícil de avaliar nesta situação fosse na semana seguinte irmos jogar contra a pentacampeã FMH. Com todas as dúvidas a pairar sobre a semana de trabalho voltamos a perder. Fomos melhores do que no jogo anterior, é verdade, mas não fomos bons o suficiente contra um adversário mais maduro.
Talvez por ter quase nascido ligado ao futebol sempre senti que este era uma analogia quase perfeita para a vida, a mutabilidade de estados e a velocidade com que uma situação se torna irreversível afeta todo um futuro idealizado ao milímetro, mas que simplesmente não é possível por uma variação do grafo que é a sucessão de acontecimentos que vivemos e/ou jogamos.
Depois de um início de sonho, tínhamos duas derrotas consecutivas que punham em causa a qualificação. Obviamente nestes momentos quem joga menos demanda oportunidades e os que pensam de uma forma diferente procuram mudanças de processos, tudo normal num grupo tão grande.
E é neste momento de fragilidade que a minha liderança futura se cimenta. Um momento de fragilidade onde não me escondi, fui perseverante e defendi as minhas ideias, não com retórica e teimosia, mas com pesquisa e inovação, com novos exercícios e com variações das dinâmicas existentes, com foco em explicar minuciosamente as ideias para que todos estivessem alinhados, com foco em manter a definição de ser Técnico categórica para todo o grupo.
Para a 6ª jornada, jogávamos contra a Nova SBE, equipa sensação da prova, até ao momento tinham cinco vitórias convincentes em cinco jogos, incluindo a FMH, jogavam reconhecidamente um futebol positivo e atrativo, que mais podíamos pedir para voltar a mostrar o que é ser Técnico?